# Thiago Neloah

[---- 36 anos, coimbra, pt, poeta. ----]

Friday, December 30, 2005

 

----- 1.



mas não me desperdiço
no cimo da agonia, da razão
do azar da dor
dostoiévski
marquês de Sade
miller
bukowski

..................... passo, piso a pedra
..................... a terra suja as minhas frieiras

melhor assim
pior seria
também não tê-las

Sunday, December 25, 2005

 

----- E S T A R



Queria escrever ou descrever agora
toda angústia que se aninha em minh'alma.

Estou cá, deixando definhar meus anos mais enérgicos,
me embededando de conhecimento, olhando no espelho e me sentindo patético.

Mas meu mal, ora vejam, não é total.
Ainda à pouco escorregou pela minha cama uma moça
cuja pele silvava como louça.

Fustiguei-lhe o corpo, nutri-me de sua entrega,
fiz com que tateasse no clarão do gozo parecendo uma cega.

Deleitamo-nos do momento - um raio no breu da madrugada,
e ficamos felizes, no enxerto da entrega mensurada.

Porém nos abandonamos, fomos cada qual para o seu canto,
e amanhã, e durante a semana, essa lembrança será um acalanto.

Não estaremos sempre juntos, não queremos isto.
Um filho em nós reclama o imprevisto.

A angústia, no fim, é a partida.
É isso, a vida?

Tuesday, December 20, 2005

 

----- UMA TARDE DE PRIMAVERA COM ÁRVORES FLORIDAS



Bia, meu caro. Estou com problemas. Receio estar perdidamente apaixonado. Uma paixão à portuguesa, que é diferente, creia, das que se tem em seu país. As paixões são diferentes, amigo. No Brasil imagino paixões fugazes e infidelidades. Infidelidade é apenas um termo que nos permite entender novas paixões paralelas. O brasileiro, creio, suporta paixões paralelas. Bilaterais.

O português de cá quando ama fica triste e melancólico. Acha que vai morrer desse sentimento. E não admite traições de qualquer tipo. No caso de havê-las, a paixão não acaba, mas a união se dissolve de maneira definitiva e o desiludido passa por muitos tempos triste, triste. Uma tristeza doída. E demora a passar.

Então eu estava na praça Colombo, cá em Coimbra, e as árvores estavam bastante floridas. Acordei tarde como de costume e não tomei café, apenas um copo de água. Com um jornal no colo fiquei vendo os pássaros e respirando. Pensei em escrever um poema que começa com "ninguém vê, mas o canto do pássaro e a flor que caem continuam". A continuidade de uma beleza que independe do olhar. Uma idéia.

E minha mente se soltou um pouco. Fiquei fitando o horizonte. Sem esperar passou por mim, quase como se me esbarrasse, uma menina e sua mãe. Uma menina de minha idade ou quase. Com cabelos louros lisos e uma blusa vermelha. E quase não lhe vi o rosto.

Quando passou e me assustei a mãe virou o rosto e me fitou e foi como se lhe conhecesse. Mas não, chequei depois mentalmente. E fui seguindo com o olhar o corpo frágil e fino da menina que não se virou. Dela, vi pouco mais que um semi-perfil. No momento minhas narinas se abriram e pude sentir seu perfume. E é por ela que estou apaixonado.

Tenho essa certeza de que não a encontrarei novamente. Voltei à praça algumas vezes depois, no mesmo horário e em outros. Mas nada dela.

E vislumbrei por um momento que poderia ser feliz com ela por toda a vida; e que seria perfeito meu existir do seu lado e teríamos filhos e netos e ela me beijaria antes de dormir na cama quente. E no verão tomaríamos sol na praia de Alcântara.

Você bem sabe que nunca fui desses destinos. Sempre me imaginei sózinho e me bastando. Amando todas as mulheres o quanto pudesse.

Bem, a minha loura passou como o sentimento.

Thursday, December 15, 2005

 

----- M A Q U I L A G E M



Rola
a gota
com sal
pela
bochecha
com rouge...

Dentro
um animal
ruge.

Sunday, December 11, 2005

 

----- P O D E R

Posso
Fechar os olhos e sonhar?

Posso
Ter prazer na brisa em meu rosto
Em olhar no espelho
Em mexer no teu cabelo?

Será que um dia poderei
Acordar e saber que, à tarde,
Te verei?

Posso contar com seu gosto
Antes de um filme ou depois do almoço?

Posso achar ainda que a vida vale a pena e etc...?
Posso te convidar um dia para passear de bicicleta?

Você deixa?

Sunday, December 04, 2005

 

----- C E G U E I R A



Em terra de cego nenhuma ilusão de ótica sobrevive.


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